Junção de vasos proporciona qualidade de vida para pessoas com Doença Renal Crônica
Para falar das principais características da fístula arteriovenosa, acesso vascular muito conhecido por pacientes nos estágios mais avançados da Doença Renal Crônica - DRC, é preciso fazer uma breve explicação sobre o sistema circulatório (composto por vasos, sangue e coração).
O sistema circulatório tem uma lógica na qual as artérias levam sangue oxigenado do coração para as mais diversas áreas do corpo, enquanto as veias levam o sangue de volta. A criação da fístula arteriovenosa — também conhecida como FAV — nada mais é do que juntar uma artéria (vaso com um maior calibre) em uma veia (vaso bem mais fino).
Realizado o procedimento, a veia ficará mais forte e resistente por receber um fluxo maior de sangue. A fístula, então, poderá ser usada para "conectar" o paciente a uma máquina de diálise. Forte, essa conexão criada cirurgicamente vai se desenvolver para aguentar um fluxo de sangue saindo do corpo (indo para a máquina) e voltando ao organismo (deixando a máquina). Confeccionada em uma cirurgia segura, com sedação e anestesia local ou regional, não leva mais de 60 minutos para ser realizada.
Fístula versus cateter
A fístula apresenta muitos benefícios em relação ao cateter. As vantagens, de modo geral, estão relacionadas à segurança do tratamento e à qualidade de vida. Enquanto a fístula é permanente, o cateter é temporário. A fístula tem uma vida média de 4 anos e, se bem cuidada, pode durar muitos mais. Eu mesma já vi fístulas funcionais com 15 anos.
Eventuais infecções na fístula costumam ser tratadas com antibióticos com grande eficácia. O processo é um pouco mais complicado em quem tem um cateter. Isso porque o plástico e outros materiais externos não respondem às soluções medicamentosas e podem tornar a infecção duradoura. De modo geral, as complicações em fístulas são muito menos agressivas em relação ao cateter.
A fístula também impacta positivamente na qualidade de vida do paciente. Afinal, com o cateter, o paciente tem que ter um cuidado redobrado na hora de tomar banho em casa, não pode ir para a praia, cachoeira e em outros ambientes que possam molhar ou sujar a saída do cateter e causar uma infecção. Como a fístula é subcutânea, os pacientes não enfrentam essas questões. A capacidade de socialização conta e muito para a qualidade de vida.
Onde é feita a fístula
A fístula, na maioria das vezes, é realizada nos membros superiores, como braço e antebraço. É preciso, porém, uma avaliação minuciosa para ver se o calibre das veias e artérias é adequado para o procedimento. Se sim, damos preferência para o lado não dominante: destros ganham uma fístula nos membros esquerdo e canhotos no lado direito.
Outra particularidade é que, preferencialmente, a fístula é feita em áreas mais próximas das extremidades do corpo (chamadas de "distais"). Caso a fístula apresente qualquer problema, ainda é possível fazer uma nova junção logo acima aumentando a possibilidade de acessos a longo prazo.
Há situações em que fístula pode ser realizada nos membros inferiores, o que é um pouco menos prático na hora de "plugar" o paciente na máquina de diálise. Ainda assim, seguro.
Cuidados com a fístula
Não há necessidade de acompanhamento anual da fístula por um médico vascular, conforme indicação do Kidney Disease Outcomes Quality Initiative - KDOQI. Boas práticas, no entanto, devem ser observadas para manter a longevidade do acesso.
A Fundação Pró-Rim oferece algumas recomendações para que as fístulas em pacientes em diálise sejam bem preservadas. Dentre elas, destaco: manter o acesso venoso limpo para evitar infecções, evitar o uso do braço da fístula para verificação da pressão arterial ou coleta de sangue, não dormir sobre o braço e manter o curativo entre 4 e 6 horas após a sessão dialítica.
Em todo caso, a equipe de enfermagem de clínicas de diálise costuma fornecer dicas e orientações para que os pacientes se mantenham saudáveis.
Cuidados pré-confeção
É interessante que as pessoas passem por exames que mostrem a situação desses tecidos. É o caso, por exemplo, da ecografia vascular, que verifica o fluxo e a pressão do sangue dentro dos vasos. No caso de veias finas e mais delicadas, o cirurgião vascular pode superficializar as veias que são consideradas "boas", mas estão em uma maior profundidade no organismo — como é o caso da veia basílica.
Em alguns casos, pode ser recomendado também uma prótese feita com material biocompatível que substitui a veia, mas situações assim costumam ser exceção.